terça-feira, 4 de janeiro de 2011

MAIS VALE UM JEGUE QUE ME CARREGUE, QUE UM CAMELO QUE ME DERRUBE...LÁ NO CEARÁ


Sinopse ( Imperatriz Leopoldinense - 1995 )

O Imperador do Brasil, D. Pedro II, membro cio Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, portava-se como um autentico sábio. E dentre os projetos que foram discutidos neste Instituto, surgiu a idéia de sua expedição científica ao Ceará. A primeira expedição formada unicamente por brasileiros, pois até então as expedições anteriores foram todas organizadas por estrangeiros.

O Nordeste era uma região quase desconhecida, na época. Preferiram o Ceará por causa de suas supostas riquezas minerais. O povo vivia sonhando com eldorados. Falava-se com a maior naturalidade em lagoas encantadas e tesouros escondidos por flamengos. Os ministros e Cientistas sonhavam como os antigos bandeirantes.

Munidos de grande quantidade de aparelhos geológicos, físicos, geodésicos e astronômicos, partiu a nossa expedição desbravadora da qual fazia parte Gonçalves Dias, o poeta, que era responsável pela narrativa da viagem e pelo estudo da população.

Por influência da Sociedade Zoológica da Aclimatação de Paris, o Governo Imperial resolveu comprar camelos na Argélia para que se reproduzissem no Ceará, tal como havia acontecido nas regiões semi-áridas da Austrália e Estados Unidos.

E assim, em 24 de julho de 1859 – a barca francesa “Splendide” vinda de Argel – chega a Fortaleza com 14 dromedários acompanhados por argelinos, pois só eles sabiam como tratá-los e domá-los.

O acontecimento foi de parar toda a cidade, todo mundo foi espiar, até o presidente da província, escoltado por soldados.

Desceram primeiro os mouros com seus turbantes e albornozes. O vestuário e sobretudo a tradição de acirrados inimigos da fé cristã, lembrava a luta dos cristãos e mouros, fixados pelo folclore nordestino.

Depois apareceram os camelos. A multidão abriu espaço para aqueles bichos tão esquisitos.

Pouco mais de um mês após a chegada dos dromedários, Gonçalves Dias resolveu ir até Baturité, usando camelo como meio de locomoção, afinal, tinha sido comprado para isso mesmo.

Os mouros armaram na corcova do único camelo manso, uma barraca que mais se assemelhava a um ninho de joão-de-barro. Gonçalves Dias se encarapitou e junto com outros homens, saiu de Fortaleza com destino a Baturité. Mas cinco léguas foram suficientes para tirar o prestígio da incômoda montaria. Neste trecho da viagem, um dos camelos caiu e quebrou a perna, e o presidente da Província do Ceará acusou Gonçalves Dias de camelicídio. Os camelos não deram certo com os cearenses, nem os cearenses deram certo com os camelos.

Enquanto isso, o jegue, tão útil no sertão, era esquecido. Mas não foi atoa que D. Pedro I proclamou o Independência montado num burrico, na Serra de Santos. Não só D. Pedro prestigiou o burrico, Napoleão atravessou ou Alpes montado em um deles. Afinal, o jegue que serve pro trabalho, que ara a terra, que carrega fardos e ainda serve de montaria, recebe as honras necessárias. Abaixo o camelo, Viva o Jegue!

Rosa Magalhães

Samba Enredo


MAIS VALE UM JEGUE QUE ME CARREGUE, QUE UM CAMELO QUE ME DERRUBE...LÁ NO CEARÁ


Ecoam pelo ar
Estórias de tesouros escondidos
Sou poeta da canção
E embarco nesse sonho encantado
Vou com destino ao Ceará
Em busca de um novo Eldorado

(Eu levo)
Levo comigo a ciência
Do país a sapiência
Tudo eu quero relatar
Nessa expedição bem brasileira
Chegam mouros e camelos
Não precisa se assustar


Balançou, não deu certo não
Pois não passou de ilusão (bis)
Eles trouxeram o balanço do deserto
Mas não é o gingado certo
Pra cruzar o nosso chão

O jegue escondido na história
Ajuda o sertanejo a tocar seu dia-a-dia
Trabalha, ara a terra sob o sol

E leva o fardo pesado
De um povo sofredor           (bis)

Mais vale a simplicidade
A buscar mil novidades
E criar complicação
Esquecendo o bom e o útil
Renegar o que é nosso
Gera insatisfação

O sertão não é só lamento
Meu momento é aqui             (bis)
Faço a festa e lavo a alma
Hoje na Sapucaí